quinta-feira, 1 de maio de 2008

O Homem dos Óculos Escuros

Entro no autocarro e vejo-o
O meu olhar foca-o
Como um holofote
Mas ele continua intacto
Não se move
Ele é deveras o passageiro mais calmo
Mas desperta a atenção
É o único que tem óculos escuros
No céu mais nublado que se faz lá fora.
Existe quase sempre esta presença
No meu percurso para a escola
Ele já cá está quando entro
E saí umas paragens antes.
Que olhar este o dele
Que por mais óculos escuros que tenha
Eu consigo…
Consigo penetrar entre os óculos
E sentir o seu olhar como meu
Como algo de mirabolante
Como algo que só eu e apenas eu
Neste autocarro
Consigo sentir
Como mais ninguém
E ele enquanto escrevo
Está sentado
Num dos últimos bancos este autocarro
Hoje não o olho
Amanhã é outro dia de sentir
O calor do seu olhar
Em mim enquanto entro
Neste autocarro…